Foto: weheartit
Ela sempre teve um certo
receio em confiar nas pessoas. Apesar de seu nome ser Claire – do francês:
claridade – era clara só no nome, pois, por dentro... Era uma escuridão imensa
e profunda como o fundo do oceano que nem ela mesma entendia.
Talvez fosse por essa razão
que afastava as pessoas: amigos familiares, affairs. Quando percebia que a pessoa estava começando a entendê-la
demais, aprendendo a decifrar seus olhares fazendo com que as palavras se
tornassem desnecessárias, ela dava um jeito de se fechar, sumir, magoar ou ser
magoada.
Em um dia chuvoso Claire
estava com suas galochas azuis iguais aos olhos e seu guarda-chuva preto. Fones
no ouvido, cabeça longe, olhos baixos. Acabou esbarrando nele, que a segurou quando esbarraram os ombros e disse:
- Desculpa. – Não houve
reação por parte de Claire. Ela se esforçava pra conseguir pensar em uma
resposta e nada. Até que conseguiu dizer:
- Tudo bem – E ele ainda a
segurava e Claire não se importou.
Ele estava de calça jeans,
moletom e um gorro desajeitado sobre o cabelo. Também não sabia o que dizer ou
pensar. Coçou a cabeça, deu um sorriso meio sem jeito e...
- Meu nome é Dave.
- Eu sou a Claire. – Disse
meio engasgada. Estava com aquela sensação de que lá vinha a confiança ou a
“falta de” brincar com a vida dela de novo.
- Foi um prazer esbarrar em
você – e sorriu – A gente se vê, Claire. – Dave começou a andar. Claire
balançou a cabeça em negativa e o chamou de volta.
- Espera... Como você vai
saber onde me encontrar? – Ele sorriu olhando para o chão, aproximou-se dela e
encostou a mão em seu braço.
- Não é a primeira vez que
vejo essas galochas azuis andando por essas ruas, Claire.
E pela primeira vez ela não
teve medo de que alguém a conhecesse, e, também pela primeira vez, desejou que
o “a gente se vê” chegasse logo.
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