sábado, 21 de junho de 2014

Talvez você saiba


Eu sempre estive ali, apesar de você nunca notar ou fingir não perceber. Enquanto você dava risadas andando por aí e bebia nos bares à noite com amigos. Eu sempre te vi e mais que isso... Sempre te percebi. Eu sabia quando você estava triste, mas seus amigos continuavam te enchendo o saco e tentando te forçar a sorrir e você sorria, mas no fundo eu sabia que tudo o que você queria era silêncio e uma mão pra segurar.
Não sei em que parte nos tornamos tão estranhos um para o outro, mas a verdade é que eu nunca deixei de te olhar, de cuidar de você mesmo que de longe. Quando eu cantava à noite nos mesmos bares que você frequentava, só tinha olhos pra você... E era como se eu nem existisse. Você olhava minhas mãos, o violão, até cantava as letras das músicas que fiz pra você, mas nunca mais me olhou nos olhos e isso doía profundamente. Sentia como se tivesse tendo o peito rasgado ali, ferida exposta.
E agora a tanto tempo não te vejo, e ainda assim penso em você. Espero que tenha encontrado alguém que te mereça, que te ame mais do que amei você. Que entenda seus momentos de silêncio e saiba que quando você dispara a falar é por estar nervosa demais e que isso um abraço resolve. E que esse alguém entenda que você fica feliz por pouca coisa, mas se entristece por pouca coisa também, como daquela vez que se entristeceu porque viu um passarinho morto no caminho de casa e aquilo acabou com o resto do seu dia.
Torço para que esteja feliz e que tenha aquele mesmo sorriso e a mesma risada gostosa que me lembro de ouvir nos corredores, nos bares, na rua e saber que ela não mais era por minha causa. Como doía te ver sorrir sem poder ser o destinatário daquele sorriso.
 Você foi a melhor coisa que me aconteceu e nem sabe disso. Talvez um dia esse texto chegue até você e você se reconheça nele. Talvez ele se perca em meio a tantos textos e cartas e não chegue a lugar nenhum. Talvez eu deva carregar esse sentimento comigo como um castigo por não ter sabido te merecer, por ter te deixado ir. O fato é que te deixei ir, mas você nunca saiu de mim e o meu medo é que nunca saia.
Espero que esteja bem... E espero que esses calçados que vejo vindo em minha direção enquanto escrevo nesse lugar que costumávamos chamar de nosso sejam os seus e espero que você venha e me reconheça, conheça, encontre, reencontre e fique. Talvez isso aconteça, talvez não passe de um sonho há muito perdido.

Isa G. 





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