Todo mundo quer, os que conseguem não o mantém, os que o tiveram morreram de dor?
Sabe,
Tenho pensando no quanto algumas pessoas têm sorte e ao menos se dão conta disso. O quanto elas procuram, procuram o amor e não percebem que o tem bem ali:
nas mãos dadas que, por descuido, passaram a ser dadas por obrigação; nos olhares que deixaram de brilhar; nos abraços que cessaram o aperto; nos segredos que se esconderam; na saudade contida no peito e em cada mínima outra parte do corpo, agora, um pouco faltante.
O amor está logo aí e elas nem percebem isso. É porque não sabem que ele só existe enquanto acreditamos nele, que só perdura enquanto cuidamos, só acontece se fizermos acontecer. Ter amor é como acreditar em estrelas falantes: é coisa íntima, fé no inexistente, improvável, louco! Estrela é amor e vice-versa. Amor caiu do céu, estrela veio dele.
Tem-se a bobagem de esperar que o amor venha bater à porta pintado de vermelho, flores no cabelo (ou nas mãos), a felicidade num braço e uma promessa no bolso: eternamente amor.
Bobagem. O amor te pega quando você é criança e acha que seu ‘namoradinho’ vai ser seu pra vida toda, até que você cresce e descobre que o que sentia não era amor. Discordo. Você sentia amor sim, mas não da forma que sente hoje! É... Não te disseram que o amor muda, amadurece conforme você cresce, não é?! Te ensinaram que só se ama uma vez (outra bobagem). Ele te pega numa terça-feira à tarde, no meio da tempestade quando seu guarda-chuva vermelho estragada devido ao vento e um certo alguém te oferece abrigo debaixo de um guarda-chuva preto (não é sua cor preferida, você nunca gostou de estranhos, mas nunca tinha visto aqueles olhos, aquele sorriso, aquelas mãos. Nunca havia trombado com o seu desconhecido certo.) O amor te descobre duas vezes no mesmo mês, à vezes mais. Ele te destrói, te muda, machuca, te faz crescer por dentro. O amor não é como naquele seu filme preferido, não é uma novela global (ainda bem), nem aquele livro no qual você chora sempre que lê. O amor é aquilo que está lá fora, espalhado por todo canto, rosa-dos-ventos, pirata, chuva, água, vento. É o que acontece quando você fecha a porta e sai de casa. É cada beijo significativo que você assiste e dá; é cada mordida dada com carinho; cada sussurro no meio do cinema; cada sorvete que vira guerra; cada guerra que acaba em paz. É cada caminhada à luz das estrelas (piegas, mas amor) que você vê; cada surpresa no meio da noite; são os sorrisos no meio do dia e pro nada; é o brilho no olho e a umidade que não vira lágrima; é o peito que aperta quando o outro se vai; é o peito que aperta quando o outro vem; amor é tudo o que não se consegue nomear.
Acontece que superestimam o amor. Acham que ele tem que estar ligado 25 horas por dia de domingo a domingo, 365 dias por ano. Sabe o nome disso? Escravidão. Até nós precisamos de férias de nós mesmos. Por que não permitir que o outro também tire férias de nós? Por que não seria um gesto de amor? Se fosse para tentar reacender o sentimento, revirar o que há por dentro, por que não? Amor é salvamento, tentativa, redenção.
Às vezes me pergunto se essa síndrome de amor faltante existe porque estão deixando de acreditar que ele exista. Talvez se, como em Peter Pan, onde quando se diz: “eu acredito em fadas”, a Sininho renasce, talvez se dissermos: “eu acredito no amo”, ele pareça mais visível. Sempre vemos aquilo que queremos ver.
E sabe, tem me assustado muito ver o quanto se procura amor e o quanto dele se tem espalhado por ai.
Isa G.