domingo, 25 de julho de 2010

Do lado de lá


Penso que pra quem decide abrir mão do 'amor' é muito fácil porque a pessoa já sabe o que vai começar a faltar, o que vai mudar, sabe o que esperar. Mas pra quem tá do lado de lá e nem imagina o furacão que está pra chegar é terrivelmente complicado: um baque, um tapa. Não. Um soco, uma espada enfiada bruscamente no estômago (sim. Para matar as borboletas azuis).
Mesmo com elas mortas ali dentro, é preciso parecer vivo por fora. Tudo bem. Todos vestem uma máscara fina ao sair de casa, ninguém quer ser exposto cru, nu ao sol e a sentimentos.
Penso como deve ser difícil sair vivo/morto por aí, na tentativa de se divertir, introsar, esquecer a espada que foi enfiada, a amargura que brotou de fora pra dentro, esconder a pele fina, rasgada, sangrenta. São machucados invisíveis sim, mas quem já foi criança arteira sabe que os menores machucados são os que ardem mais. Machucados grandiosos vêm com dose de morfina junto pra amenizar a dor (pena coração não entrar na categoria 'ferida aberta').
Imagino como deve ser ver a pessoa que te apunhalou do outro lado da rua, numa boate ouvindo um pagode qualquer... E você ali em outra tentando curtir um rock que grita sua dor. Como deve ser doloroso ser separado trinta metros de alguém e não poder fazer nada, simplesmente... Nada. Chorar? Pra que se afogar por dentro se quem está do lado de lá parece um ser flutuante no meio do mar? Gritar? Acha mesmo que será ouvido por quem quis te calar? Atravessar a rua? Mas e a barreira de dentro?
Às vezes, quando machucados, sair por aí não é a melhor opção. Sábado, sendo sábado, nem por isso tem que significar entreterimento, esquecimento, diversão. Às vezes vem é pra fazer pensar, lembrar mesmo. E dói, como dói se sentir indefeso diante da vida, diante do outro. Mas, o domingo vem e vem pra ajudar a, de novo, começar a esquecer.
É o que sobra pra quem ficou com amor no peito: esquecer ou sufocar. Opinião? Melhor esquecer. Aos poucos a noite passa, a dor se esconde, as pessoas se vão... E ao olhar pro outro lado da rua: calmo, vazio, nem vai parecer que ali, já esteve quem te assassinou por dentro. Vai parecer ilusão e, quase sempre, é mais confortável viver dela... Pelo menos pra quem sobra com amor.

Isa G.

3 comentários:

  1. Preciso dizer alguma coisa (risos)? Incondicionalmente lindo, Isa! :)

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  2. Todos os seus textos são magnificos, mais confesso que esse foi o que mais me tocou. Me identifiquei muito com ele. Simplesmente sensacional (mais uma vez rs).

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  3. E tem como não se encantar com tuas palavras? Sempre com a firmaeza de quem sente o que escreve.

    pela milésima vez, parabéns :D

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