quarta-feira, 20 de abril de 2011

Lindo de se ter

Você não é o tipo de cara pra mim. Ouve rock e eu curto MPB, usa umas gírias que não entendo enquanto eu digo o que você não vê; é desligado ao extremo e eu sou feita de detalhes. Age por impulso, me retenho por medo, sua palavra é risco, a minha é receio. Mas é quando você sorri, é quando te vejo que estrago tudo, que me perco. Nada se compara a você. É esse jeito único de segurar o cigarro, essa forma desleixada de tocar a gaita apertando os olhos, seu jeito de segurar minha mão. É por isso que me perco. Porque você me observa de longe e sorri quando percebo, porque você me ouve e aconselha e preocupa e tenta estar sempre aqui. Aqui onde bate um coração machucado, escaldado com medo de ser feliz. Aqui onde quando a felicidade aparece, muralhas são construídas evitando um cavalo de tróia, algum sentimento alheio que seja grego, qualquer barulho de sinceridade soa a perigo, qualquer carinho seu soa a abrigo. É aqui que eu percebo. Se você passa um dia sem me procurar meu corpo dói inteiro, quando penso em você sou transportada pra um lugar de paz, embora haja medo. Você não é o tipo de cara pra mim. Mas quando me liga no meio do dia, diz em mensagem que está pensando em mim, fala ‘se cuida’ da forma mais protetora possível, é aqui que eu vejo. O quanto sinto sua falta, o quanto te desejo. Logo eu que havia dito que iria construir um coração de pedra, logo eu que iria resistir a sentimentos. Perdi. Perdi o fôlego quando te vi, perdi a razão quando te conheci, me perdi. São esses olhos enigmáticos tão seus, é esse jeito tão único de ser um cara que não é meu tipo, mas se esforça pra ser o cara de gírias engraçadas, gostos estranhos, idéias malucas que protege uma menina insegura do seu próprio universo paralelo. Você não é meu tipo, mas está aqui. E isso basta agora. Então fica. Toca uma gaita pra eu dormir e sonha comigo.

Isa G.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Fé e medo são dois lados da mesma moeda

"Todo mundo ama um dia,
 todo mundo chora um dia
 a gente chega e o outro vai embora" - 
Tocando em frente
-Não posso, não posso, de novo não – ela disse sem parar e desesperadamente ao entrar no apartamento.
- Não pode o que Claire? – perguntou Frances, sua amiga que estava deitada confortavelmente lendo no sofá.
-Não posso Frances... Simplesmente não posso porque não acredito. – Claire sentou ao lado da amiga que deixou o livro de lado para tentar entender as loucuras que estava ouvindo.
- Espera – disse – qual o problema?
- O problema? – riu sarcasticamente – O problema é que não posso me envolver, isso tudo não passa de uma ilusão, eu sei disso, sei lá no fundo – levantou e começou a andar de um lado pro outro – sei que não mereço isso, isso nunca aconteceu.
- Dá pra parar de andar de um lado pro outro e ficar quieta, Claire? – Frances levantou, indicou o sofá para Claire sentar, esperou que ela o fizesse e cruzou os braços – Olha aqui... Você tá com medo, não é? Medo de estar vivendo um sonho, de quebrar a cara, tá com medo do desconhecido e de ser feliz. Larga de ser trouxa, Claire! Você vive fugindo daquilo que te faz bem; vive interrompendo as coisas pela metade; vive se culpando por crimes que não cometeu.
                Claire levantou, foi até a janela, esperou um pouco e depois se virou para a amiga dizendo:
-Você diz isso tudo, mas sabe que não funciona. Você é uma sonhadora boba que acredita demais nas pessoas. Seu problema é esse, Frances.
-Ou talvez o seu problema seja não ter um pouco de fé em si mesma. 
-Fé? – Claire caminhou para a cozinha e pegou um copo d’água. – O que você entende de fé?
                Frances era expert nesse assunto. Em crer. Acreditar. Sim, ela já havia sofrido muito ao acreditar demais, ao esperar demais, só que a fé que as decepções lhe ensinaram foi o melhor presente que ela poderia imaginar possuir. Porque fé é isso mesmo: a gente só ganha quando perde o medo. De tentar. De arriscar. De caminhar sem olhar pra trás, sem preocupar com os espinhos, buracos, curvas à frente. 
                A garota de olhos castanhos escuros, um corpo esguio e um coração do tamanho do mundo olhou para a amiga que parecia uma estátua de um anjo perdido à sua frente.
-Fé, Claire, é dar uma chance ao desconhecido. Recompensa de fé é descobrir que aí dentro – apontou a amiga – existe um altar pronto pra receber seus medos, tristezas, anseios e te dar em troca toda a felicidade da face da Terra.
                As duas ficaram em silêncio durante um tempo.
-Tenho medo.
-E quem não tem, Claire? Mas isso a gente supera.
-Como?
-Ah, querida! – Frances foi até a janela da sala, abriu-a e olhou para baixo – Do jeito mais simples e bonito que existe: vivendo. – Ela sorriu à amiga. – Ele ainda está lá embaixo. Não deixe a felicidade escapar por medo de não merecer ser feliz. A felicidade é difícil de encontrar justamente porque ela vem até nós aos poucos, sendo construída num caminho tortuoso e se ela está aqui pra você... Viva.


E agora Claire, que você sabe que
 fé e medo são dois lados da mesma moeda?
 Joga o medo pra cima e vê se
 ele cai de cara no chão. Joga a fé pra cima e vê se
 ela te dá o céu.
E agora Claire, acha que está pronta
 pra ter a felicidade em mãos? 
Se dê uma chance menina,
 abre esse coração.

Isa G.

                

sábado, 16 de abril de 2011

Sol

"It's not always easy and
 sometimes life can be deceiving
 I'll tell you one thing,
 it's always better when we're together"
- Jack Johnson

=)
Queria conseguir falar dessa felicidade toda que tá aqui dentro. Desse sentimento puro e lindo e iluminado que surgiu em meio a uma tempestade, um tormento... Mas não dá, sabe? A ausência de palavras se dá quando a dona felicidade bate a nossa porta! E eu abro! Ah! eu abro: portas, janelas, peito e alma pra ela entrar. Mas falar? Não... Falar não dá. Aí é pedir demais. A dona felicidade pede silêncio, intensidade de momento, cuidado ao abrir a boca! Ela quer que a gente feche os olhos e olhe pra dentro! Ela me pediu bem isso... Me chamou de Sol! Logo eu que carrego a chuva comigo, que sou tempo nublado constantemente, mas ela disse e disse bem devagarinho acho que pra que eu acreditasse: "Sol, fecha os olhos e confia em mim. Deixa eu cuidar do seu lado de dentro. De onde eu venho tudo é interno, tudo é silêncio." E eu fechei. E eu tô aqui! A gente não morre ao acreditar, entende? E eu achava que se entregar ao desconhecido assim era arriscado demais. Tem coisa mais estranha e desconhecida pra gente do que a gente mesmo? Mas faz um bem enorme. Queria conseguir falar dessa felicidade toda que me invade e instala e pede abrigo. Dessa palavra indecifrável que é: Felicidade. Dessa corrida maluca que é caminhar por dentro pra tentar encontrá-la, mas não consigo. Ser feliz tem me ensinado a falar menos e viver mais. Talvez esse seja o verdadeiro propósito dessa senhora baixinha e balofa que chega num sábado à tarde, numa quarta à noite e vai embora quando menos se espera. Ei, dá pra acreditar que ela me chamou de Sol? Agora além de alma sou quente. Sou luz, energia, meu próprio caminho.Sou felicidade habitando em mim. Eu sou. Sol "soul".

Isa G. 

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Alma de pérola azul


As luzes do parque se apagaram. Eu ainda estava lá quando aconteceu. Perdida em pensamentos,em companhia com a solidão, lágrimas por ninguém. Continuei ali imóvel, calada. A única parte do meu corpo a perceber a mudança foi o coração que acelerou. No primeiro momento fiquei assustada, tudo era escuro e denso e silêncio. Mas depois de algum pequeno tempo algo muito estranho e mágico aconteceu: minha alma reconheceu o seu reflexo ali naquele lugar onde eu não conseguia ver um palmo a frente, onde os vaga-lumes pediam licença pra existir; encontrou-se em meio a solidão, enxergou-se quando eu ceguei, saiu de mim quando percebeu que meu corpo estava pequeno demais para ela (a tristeza tem dessas de diminuir a gente. Definhamos sem perceber) e alimentando-se da escuridão...  Resolveu me dar uma chance e me iluminar (por dentro). O desespero que antes me consumia foi sendo substituído por um sentimento de paz. Eu estava bem comigo mesma, não precisava segurar firme na mão de ninguém, não precisava ter certeza do caminho a seguir. Tudo que eu precisava estava ali: uma alma externa guiando meu caminho; uma mente descansando tranquila dentro de um coração uno. Mais do que isso: um coração que, enfim, conseguia ser unidade. Caminhar sozinho deixa a distância maior; caminhar sozinho deixa o peito em pranto; caminhar sozinho abre um buraco que gosto de chamar de EU! é um "eu" tão grande que cada passo dilata o buraquinho e ele vai invadindo o corpo por inteiro, pedindo licença e dizendo: Ei, me deixa passar que "EU" estou aqui. Foi o que me aconteceu. Fui invadida por um "eu" que conseguiu me libertar de todos os "vocês" que me preenchiam. Mas, antes da sensação de prazer, de paz, completude, esse lindo e traiçoeiro "eu" abriu um buraco imenso bem no centro do peito (é...ele é bem espaçoso) e se espreguiçou, esperneou, então, por fim, se aquietou. E quando isso aconteceu, ah! quando isso aconteceu... Despertei pro lado de dentro. Consegui enxergar todos os furinhos que já havia sofrido nessa vida (parecia um queijo suiço); vi minha mente trabalhando arduamente para tentar me acalmar, o peito que liberava adrenalina sem parar. E vi...eu vi... lá no centro do meu corpo um buraquinho bem pequenininho que era cheio de uma luz azul e branca... Desconfiei que era onde a dona alma morava. Ainda naquele parque escuro, sentada num banco sujo de chuva e terra, com lágrimas nos olhos agradeci: "Obrigada por me dar uma alma tão linda e branda. Obrigada por me guiar através dela." Fechei os olhos e em pensamento disse que ela podia voltar a me habitar. Que eu faria o possível para aumentar seu terreno e que dali em diante a teria como mapa, bússola, guia espiritual. Sabe, a alma é poesia, o lado chato da vida sobra pro corpo. Só quem já sofreu muito e entende de amor e palavras consegue encontrar a própria alma. Só enxerga a alma aquele que está disposto a deixar de ver e passar a sentir. O concreto é o corpo, alma é abstração. Vem do latim anǐma e significa aquilo que faz mover. É meu bem, sem conhecer a própria alma você está preso numa estagnação interna; seus sentimentos não se moverão. Fiquei como uma estátua nesse mundo por tempo demais. Observei e absorvi muita coisa por aí. Mas foi ali... Sentada em um parque no fim de uma noite, ao se apagar as luzes do mundo e de mim que me encontrei. Agora quero ser alma, pra sempre alma, pra sempre serei, soul...


Isa G.