quinta-feira, 10 de julho de 2014

Azul

Foto: weheartit

Ela sempre teve um certo receio em confiar nas pessoas. Apesar de seu nome ser Claire – do francês: claridade – era clara só no nome, pois, por dentro... Era uma escuridão imensa e profunda como o fundo do oceano que nem ela mesma entendia.
Talvez fosse por essa razão que afastava as pessoas: amigos familiares, affairs. Quando percebia que a pessoa estava começando a entendê-la demais, aprendendo a decifrar seus olhares fazendo com que as palavras se tornassem desnecessárias, ela dava um jeito de se fechar, sumir, magoar ou ser magoada.
Em um dia chuvoso Claire estava com suas galochas azuis iguais aos olhos e seu guarda-chuva preto. Fones no ouvido, cabeça longe, olhos baixos. Acabou esbarrando nele, que a segurou quando esbarraram os ombros e disse:
- Desculpa. – Não houve reação por parte de Claire. Ela se esforçava pra conseguir pensar em uma resposta e nada. Até que conseguiu dizer:
- Tudo bem – E ele ainda a segurava e Claire não se importou.
Ele estava de calça jeans, moletom e um gorro desajeitado sobre o cabelo. Também não sabia o que dizer ou pensar. Coçou a cabeça, deu um sorriso meio sem jeito e...
- Meu nome é Dave.
- Eu sou a Claire. – Disse meio engasgada. Estava com aquela sensação de que lá vinha a confiança ou a “falta de” brincar com a vida dela de novo.
- Foi um prazer esbarrar em você – e sorriu – A gente se vê, Claire. – Dave começou a andar. Claire balançou a cabeça em negativa e o chamou de volta.
- Espera... Como você vai saber onde me encontrar? – Ele sorriu olhando para o chão, aproximou-se dela e encostou a mão em seu braço.
- Não é a primeira vez que vejo essas galochas azuis andando por essas ruas, Claire.

E pela primeira vez ela não teve medo de que alguém a conhecesse, e, também pela primeira vez, desejou que o “a gente se vê” chegasse logo.

sábado, 21 de junho de 2014

Talvez você saiba


Eu sempre estive ali, apesar de você nunca notar ou fingir não perceber. Enquanto você dava risadas andando por aí e bebia nos bares à noite com amigos. Eu sempre te vi e mais que isso... Sempre te percebi. Eu sabia quando você estava triste, mas seus amigos continuavam te enchendo o saco e tentando te forçar a sorrir e você sorria, mas no fundo eu sabia que tudo o que você queria era silêncio e uma mão pra segurar.
Não sei em que parte nos tornamos tão estranhos um para o outro, mas a verdade é que eu nunca deixei de te olhar, de cuidar de você mesmo que de longe. Quando eu cantava à noite nos mesmos bares que você frequentava, só tinha olhos pra você... E era como se eu nem existisse. Você olhava minhas mãos, o violão, até cantava as letras das músicas que fiz pra você, mas nunca mais me olhou nos olhos e isso doía profundamente. Sentia como se tivesse tendo o peito rasgado ali, ferida exposta.
E agora a tanto tempo não te vejo, e ainda assim penso em você. Espero que tenha encontrado alguém que te mereça, que te ame mais do que amei você. Que entenda seus momentos de silêncio e saiba que quando você dispara a falar é por estar nervosa demais e que isso um abraço resolve. E que esse alguém entenda que você fica feliz por pouca coisa, mas se entristece por pouca coisa também, como daquela vez que se entristeceu porque viu um passarinho morto no caminho de casa e aquilo acabou com o resto do seu dia.
Torço para que esteja feliz e que tenha aquele mesmo sorriso e a mesma risada gostosa que me lembro de ouvir nos corredores, nos bares, na rua e saber que ela não mais era por minha causa. Como doía te ver sorrir sem poder ser o destinatário daquele sorriso.
 Você foi a melhor coisa que me aconteceu e nem sabe disso. Talvez um dia esse texto chegue até você e você se reconheça nele. Talvez ele se perca em meio a tantos textos e cartas e não chegue a lugar nenhum. Talvez eu deva carregar esse sentimento comigo como um castigo por não ter sabido te merecer, por ter te deixado ir. O fato é que te deixei ir, mas você nunca saiu de mim e o meu medo é que nunca saia.
Espero que esteja bem... E espero que esses calçados que vejo vindo em minha direção enquanto escrevo nesse lugar que costumávamos chamar de nosso sejam os seus e espero que você venha e me reconheça, conheça, encontre, reencontre e fique. Talvez isso aconteça, talvez não passe de um sonho há muito perdido.

Isa G. 





O que eu quero te dizer


Sei que parece meio impossível, mas eu sentiria sua falta mesmo sem te conhecer. É sério. É como se durante toda a vida em algum lugar dentro de mim tivesse um vazio, mas não aquele tipo de vazio que dói, aperta, e dói de novo e a gente se contorce pra ver se a dor passa. Não.  Um vazio bonito, um vazio cuja existência servia para ser preenchido por você e ele já sabia disso, antes de mim.
E você precisa saber... Você precisa saber que seu jeito de sorrir sempre com esses olhos verdes é fascinante... Não deixe nunca de sorrir assim. E tem também esse seu jeito de ver o lado bom das pessoas e das coisas. Eu tentei mudar um pouco isso em você, mas não por não gostar e sim por ter medo de que se aproveitassem dessa sua forma tão bonita de ver tudo e todos. Nunca conheci alguém com mais esperança nas pessoas do que você. Eu podia te dizer as piores coisas sobre alguém, que você tentava analisar a vida inteira da pessoa buscando justificativas para ela ser daquele jeito. Quem hoje em dia faz isso? Quem? Você é única.
 Sei que podemos não ser pra sempre, apesar de achar que somos há muitas vidas, e por isso preciso tentar te dizer o que às vezes não digo. Eu gosto quando você me olha nos olhos rindo o tempo todo, e como fica séria quando é preciso. Até com a “cara fechada” você é bonita, como pode?
Me surpreende como você consegue se empolgar tanto com um filme ou um livro e falar deles como se fossem as melhores coisas do mundo, e os tratam com tanto amor e respeito. Cuida dos livros como se fosse parte de você, assisti a filmes como se fosse sua extensão. Você é letra pura e eu sempre fui mais razão. Tenho palavras apenas em pensamentos, não consigo transformá-las em textos bonitos iguais os que você escreve com tanta paixão naquele caderno do pequeno príncipe que te dei.
Te digo com toda a certeza, por tudo o que conheço e já vi no mundo... Eu te amo, acredito que as coisas possam ser melhores porque você existe. Sua existência torna o mundo um lugar melhor, e lá no fundo acho que as pessoas sabem disso.
Tudo o que eu quero é que você saiba do que é. Sei que é segura, independente, e sabe o que diz e faz, mas não é isso. Quero que saiba da beleza que é te ver sorrir quando o Sol brilha em seus olhos e o quanto me dói te ver chorar em noites chuvosas. Quero que entenda o quão especial e única você é por ainda gostar de andar de mãos dadas, abraçar, olhar nos olhos quando fala. Isso é raro. Não se sinta uma borboleta no aquário por ser assim. Sinta que você me preencheu de uma forma singular, que tudo o que eu precisava você trouxe. E por isso eu sou eternamente grato.

Isa G.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Do verbo querer... Eu quis.


Já achei que uma história ia durar para sempre e não durou nem até o dia seguinte. Já pensei que ia morrer de tanto chorar e já quase fiz xixi de tanto rir. Já me decepcionei muito com amigos antigos, os quais achei que podia contar pra vida toda; e me surpreendi quando "estranhos" me estenderam a mão. Já senti tanta raiva por injustiças que sentia vontade de mudar o mundo; e percebi que o mundo só muda se eu me mudar primeiro. Já tive muito medo de mudanças - hoje vejo que o natural da vida é isso: mudar - mudam as estações, as notícias, as cores do céu mudam todo dia, mudam os estilos, os gostos, mudam os corações. Já quis ser médica, bailarina, fotógrafa, escritora, diplomata; hoje eu só quero ser eu mesma com todos os erros e tropeços que me compõem, e que esse "eu" me leve até meu caminho; Já acreditei demais nas pessoas, confiei demais e me decepcionei. Continuo acreditando demais nas pessoas, confiando e ainda me decepciono, mas não me arrependo. Prefiro acreditar que o ser humano ainda tem solução, que um dia vão descobrir que mentir não leva ninguém a lugar nenhum, que passar o outro para trás é dar uma rasteira em si mesmo lá na frente. Já gostei muito de sorrisos; hoje prefiro os olhares. São os olhos que revelam aquilo que a boca não consegue dizer, são eles que mostram a bagagem de uma vida toda se você prestar atenção, são os olhos que não conseguem mentir. Já tive certeza de que amor pra ser amor tinha que ter flores, chocolates e final feliz com "para sempre". Hoje, só pelo simples fato de duas pessoas escolherem ficar juntas já acredito que é indício de amor; se elas se respeitarem então, mesmo que não haja flores ou 'eu te amo' todo dia, eu acredito que há amor. Já quis mudar de país, de curso, de rumo, a cor do cabelo e não mudei - ainda - quando queremos mudar coisas demais significa que a mudança precisa acontecer, na verdade, dentro da gente. O lance é que temos que ser felizes onde estivermos, como formos e com o que fizermos... Só assim as coisas se encaixarão em seus devidos lugares. Tenho medo de perder pessoas queridas e tenho muito medo de perder a mim mesma. Tenho medo da solidão. Já tive um conceito ruim sobre algumas pessoas e mudei de ideia sobre elas. Já tive conceitos muito bons sobre outras pessoas e também mudei de ideia. Se me perguntassem se eu pensava estar onde estou hoje, responderia que com certeza não. O fato é que a vida surpreende a gente. Às vezes nos tira coisas ou pessoas que amamos. De vez em quando nos surpreende com um agrado. Traz problemas, mostra as soluções. Decepciona, derruba, dá raiva, revolta, indigna, mas também agrada, levanta, dá sentido às coisas, faz com que aquilo que nos pertence nos encontre no meio do caminho. Já pensei em terminar esse texto, mas não sei como acabar. Então eu digo: Já quis e quero muita coisa, já deixei de querer, como vários que estão lendo e essa é a beleza de se viver: poder mudar e mudar sem querer e descobrir que essa mudança foi apenas ao seu favor. Quando a gente acredita o universo conspira, quer a gente queira, quer não.

Isa G.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Ele

Weheartit

Ele é canhoto, dorme do lado esquerdo e ocupa o mesmo lado do meu coração, mas me ama direito. Ele não é um príncipe que chegou no cavalo branco, mas é um cara que chegou pra ficar porque apesar de ser esquecido, pouco romântico e às vezes sem paciência, ele é meu lado racional, é ele que põe meus pés no chão e me deixa sem medo de viver a realidade porque eu sei que ele está ali. Mesmo que longe, quietinho, com o jeito caladão de ser, mas está e sei que vai segurar minha mão sempre que eu precisar.
Ele nunca fez nenhuma música pra mim ou escreveu uma carta, flores? Só quando vamos em casamentos e ele pega uma no final da festa pra me dar, mas já chegou com chocolate quando eu estava na TPM, já trouxe remédio quando adoeci, já trouxe lanche quando voltou do futebol pra se redimir do atraso.
Ele está a mil quilômetros de distância e no meu coração o tempo todo. Ele que chegou de mansinho e foi ficando, que aprendeu a gostar de ir ao cinema e ver séries na TV comigo, ele que não tem paciência pra livros, mas me dá vários deles, que não gosta de romance em público, mas que me cobre se eu durmo no sofá e beija minha bochecha, que fez as melhores viagens comigo.
Ele que me fez entender que pessoas sentem e são diferentes e nada nem ninguém pode mudar isso a não ser que a pessoa queira, que trouxe um lado meu que eu não conhecia, me fez e faz amadurecer e me faz querer que a vida passe bem devagar quando estamos juntos, mas que o tempo se apresse quando a distância fica entre nós. É  ele o cara que me mostrou que desde que acreditemos um no outro podemos vencer tudo.
Então, preciso dizer: Ele é o cara que eu amo. Ele que anda de mãos dadas comigo só pra ir à esquina, que sabe minhas músicas preferidas e não desistiu de nós, que acredita em mim e me faz vislumbrar um futuro bonito logo ali na frente de nós dois. 
Eu sei que ele não é perfeito, eu também não sou... ninguém é. Tem dias que eu quase morro de raiva remoendo coisas que ele fala e tem vezes que me chateio por ele não lembrar de algo, mas aí... Eu lembro do quanto esse cara de sorriso torto e coração imenso me surpreendeu e surpreende. E a cada dia eu me pergunto: Como pode meu coração bater tão forte por uma pessoa depois de tanto tempo? E meu estômago ainda ficar cheio de borboletas quando eu tô indo encontrá-lo, é normal? Como pode duas pessoas tão diferentes darem tão certo e suportar essa distância toda? Então eu percebo que é porque é ele.

Isa G.