Ela caminhou cabisbaixa e pesadamente ladeira a baixo. Vinha do nada e ia em direção a lugar nenhum porque nada importava mais. Não tinha mais noção de tempo, espaço, sentidos. Caminhava pra ver se, talvez assim, se desfizesse aos poucos: um pouco na chuva, muito no asfalto. Caminhava com pés cortados, que doíam bem menos do que o coração machucado. A dor no peito anestesiava as outras. Caminhou com lágrimas, sangue e saudade até não aguentar mais. Sentou no meio de um quarteirão da cidade movimentada que a seus olhos parecia vazia. Deixava a chuva cair em seu rosto lavando o rosto já limpo, levando o sal.
Ele caminhava de queixo erguido, ladeira a cima. Vinha da fé em direção ao sucesso porque sempre foi de correr riscos ligados a si mesmo, sempre acreditou muito em sua capacidade e agora seguia... Caminhava orgulhoso de ser quem era, estava indo em busca de algo há muito desejado. Parecia feito de pedra, cminhava firme sem olhar pra trás.
O que ninguém vê é que por dentro ele desce, teme e treme com medo de estar indo na direção errada. Ele arrisca sempre porque tem medo do que pode não chegar caso opte pelo mais seguro. Por dentro ele não só olha pra trás, como ainda está parado em algum lugar por lá. Por dentro até a pedra sangra, por dentro até ele chora. Caminhou seguro de si, mas em um lapso optou por parar. Sentiu que faltava algo. Sentou-se no meio do quarteirão da cidade movimentada que a seus olhos passava em câmera lenta. Com os braços apoiados nos joelhos, escondeu o rosto. A chuva aumentava e como ele nunca gostara de tempo fechado, colocou seu capuz e pela primeira vez... Olhou pra baixo. Fez isso pra evitar algo que vinha de cima, que era maior que ele. Era chuva e algo mais... Ele... sempre tão seguro, estava agora sem saber o que fazer.
Ela não sabia disso, mas se olhasse um pouco a cima veria a placa escrita: "Rua da espera"; Ele também não sabia, mas se olhasse a sua frente veria a placa escrita: "Rua da esperança".
Tratava-se de duas ruas paralelas e, pelos nomes, não é de se estranhar que fossem as mais movimentadas. Na vida, ou esperamos diretamente ou a esperança surge indiretamente pra nos fazer acreditar que algo, um dia, pode vir, pode chegar.
Realmente ela esperava. Esperava que tudo ficasse bem, que ele fosse feliz e conseguisse o que sempre quis, que esse sentimento de falta passasse, que a saudade acabasse e que um dia as lembranças deixassem de doer e passassem a ser apenas bonitas, como tinham sido um dia. Mas o que ela mais esperava, ainda sem saber, era que um dia ele voltasse e mais do que isso... A encontrasse, resgatasse, descobrisse o erro que cometeu.
Ele tinha medo de admitir, mas certas ruas não nos deixam mentir: ele ainda tinha esperança de um dia voltar a vê-la, tê-la, saber que aquele sorriso tímido que ela sempre dava seria pra sempre seu. Ele tinha esperança de voltar e encontrar tudo o mesmo. Tinha esperança de que ela a esperasse e mais que isso... O amasse.
Estavam sentados em ruas paralelas. Tão pertos, tão longe do lado de dentro. Um sentou pra esquecer e o outro pra lembrar. Um por ter medo de seguir, o outro por querer continuar. Um pra ter esperança, o outro pra esperar.
Na matemática se aprende que linhas paralelas não se cruzam jamais. São infinitas no começo e também no fim. A matemática é perfeita e graças a Deus, a vida não. Talvez o engenheiro, arquiteto, ou um louco a céu aberto tenha estragado alguma rua por aí... E talvez, só talvez, quem sabe... Seja nesse defeito o reencontro dos dois porque talvez, só talvez, eles ainda se reencontrem. Daqui onde estou vejo que logo ali na frente, ali ó... É... Está um pouco loge, mas dá pra ler bem pequenininho a placa escrita: "Rua do destino" e dessa rua... Ninguém foge.
Isa G.
Parabéns, seu texto é incrível! A metáfora das ruas é perfeita, e você soube ser romântica sem ser "melosa". Seus textos são leves, gostosos de ler, e nos passam mensagens profundas e absolutamente verdadeiras. Novamente, meus parabéns! :)
ResponderExcluirOooi Douglas!!! muito obrigada mesmo pelo elogio :) espero que continue visitando e gostando! MUITO OBRIGADA!! beijos =**
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